segunda-feira, 12 de setembro de 2016

O trem das almas perdidas


Ele abriu os olhos e foi despertando lentamente de um sono profundo. Estava deitado em um banco de uma velha estação ferroviária. Seu nome era Paulo, era alto e magro, seu rosto lembrava as feições de uma coruja. Um som sibilante soava em sua volta, parecendo badaladas de sino. Estava bastante confuso, não conseguia se lembrar de como havia chegado naquele local.

Viu um trilho que percorria um longo caminho, desaparecendo em um túnel no meio de uma enorme montanha. Averiguou as horas em seu relógio. Eram 08 horas. Paulo levantou-se e começou a caminhar pela estação, não havia sinal de ninguém. De repente, viu que uma bela mulher grávida caminhava em sua direção. Ele fez menção de cumprimenta-la, mas a mulher passou sem perceber a sua presença e ficou escorada em uma coluna. Paulo ouviu um grande barulho. Um trem surgia por dentro da montanha. O homem apenas observou. Após alguns minutos o estranho veículo parou. A grávida foi em direção a uma das portas. Entregou uma espécie de passagem a um homem parado em uma das portas e entrou.

Paulo tentou embarcar, mas o homem perguntou pelo seu bilhete e uma vez que ele não possuía, negou a sua entrada. O trem seguiu viagem.

Um sentimento de angústia foi tomando conta de Paulo. Não havia estradas por perto e apenas uma densa floresta se estendia a sua volta. Ele pensou que deveria estar em um pesadelo, sentou novamente no banco e esperou que aquele estranho sonho passasse. Contudo, ele continuava no local. Novamente ouviu passos se aproximando. Um homem vestido com um terno preto e chapéu da mesma cor se aproximava furtivamente. O homem sentou ao seu lado e começou a observá-lo. Paulo lhe perguntou:

 Que local é este? Pode me ajudar a sair daqui?

- Claro, possuo um bilhete para o próximo trem. Entrego-lhe sob uma condição.

- Sim, faço qualquer coisa para sair deste lugar.

- Quero sua alma em troca do bilhete.

Minha alma? Este cara está louco, Paulo pensou. Mas como o mesmo não acreditava em nada além do mundo material, ele resolveu fazer a troca.

O homem de preto lhe entregou o bilhete e saiu caminhando lentamente. Outro trem surgia no horizonte. Paulo viu mais uma vez as horas, já eram 8h50. Esperou que abrissem suas portas, entregou o bilhete ao cobrador e entrou no veículo. Às 09 horas o trem partiu. Paulo estava muito confuso ainda, mas algumas lembranças foram surgindo em sua mente. Lembrava-se que estava entrando em uma loja de conveniências para comprar bebidas. Agora percebia que estava dirigindo em alta velocidade, quando passou em um sinal vermelho e a última imagem que viu tinha sido a de um caminhão vindo ao seu encontro. Acordou naquele estranho lugar.

O trem agora estava em alta velocidade, mas parecia que estava se desmaterializando, a sua volta tudo estava sendo apagado da existência. Ele tentou correr na direção contrária. Logo uma claridade tomou conta de tudo, alguma coisa similar a uma enorme mão parecia querer lhe pegar.

Na sala de parto de um hospital uma criança foi tirada do ventre materno. A mãe olhou para o filho e disse: Bem vindo ao mundo Paulo.

A criança nasceu condenada, pois sua alma já não lhe pertencia.

Na estação de trem, o homem de preto olhou para o relógio de parede. Esperava agora pelo trem das 10 horas. No banco, outro homem agora estava sentado a sua espera.

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